"Pensávamos que o nosso futuro estava nas estrelas, hoje acreditamos que está nos nossos genes."

James Watson

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sexta-feira, 24 de abril de 2009

Genética é destino

Novos exames podem detectar doenças futuras em pessoas hoje sadias. A nova tecnologia permite revolucionar a medicina preventiva, mas também trouxe vários casos de abuso da privacidade. Começou a era da discriminação genética.
Já não é mais ficção científica. Exames podem detectar doenças futuras em pessoas hoje sadias. A nova tecnologia permite revolucionar a medicina preventiva, mas também trouxe vários casos de abuso da privacidade. Começou a era da discriminação genética.

Por Ricardo Bonalume Neto



O local é o consultório médico de uma grande indústria química americana, onde um operário interessado em trabalhar faz exame de sangue.
Depois que sai o resultado, ele é informado de que não será admitido, mas não lhe explicam o porquê. Motivo: dentro das células do sangue, o exame encontrou um gene anormal, que pode, quando menos se espera, disparar o mecanismo do cancro no seu corpo. Há muitas hipóteses de isso acontecer porque naquela indústria fica-se exposto a compostos de chumbo e benzeno, capazes de accionar o gene. A empresa não quer correr o risco de ter de pagar indemnização se o operário ficar doente.
Os exames genéticos estão se multiplicando velozmente porque a cada dia se aprende mais sobre os genes as receitas bioquímicas que comandam o funcionamento do organismo. Feitos de uma substância comum a todos os seres, o DNA, os genes carregam as informações necessárias à formação e ao desenvolvimento do ser vivo. Mas também comandam a destruição: todas as pessoas, sem excepção, trazem dentro dos genes pelo menos cinco ou seis que podem ser causa de doenças.
Ser portador de um gene patogénico, ou que produz doença, não é certeza de ficar doente. Cada pessoa tem um gene herdado do pai e outro da mãe; às vezes um cancela a acção negativa do outro. Ou então o gene indica apenas predisposição à doença.

Durante a Copa do Mundo de 1990, se achava que existiam algo como 4 000 doenças provocadas pelos genes. Na era do te-tra, calcula-se que elas sejam em número de 6 000. E a ciência já é capaz de dizer, pelo menos, em que parte do genoma, nome que se dá ao conjunto dos genes, se encontram as falhas fatais que conduzem a 1 000 doenças. Para metade dessas doenças, o defeito pode ser apontado ainda com mais precisão: em um dos 100 000 genes, aproximadamente, que compõem o genoma dos seres humanos (esse número é incerto: pode estar entre 50 000 a 150 000).
Em muitos casos, basta analisar o sangue de uma pessoa ou até fios de seu cabelo para saber se, dentro de suas células esconde-se uma doença. Os exames ainda são caros e difíceis de fazer, mas são rotina em vinte das 500 maiores empresas americanas, diz uma pesquisa encomendada pelo Congresso dos Estados Unidos. Mais de 250 empresas já demonstraram interesse em usar os testes, no futuro.
A certeza de que é inevitável a invasão da intimidade genética das pessoas cria dilemas éticos graves. Para as empresas, pode não ser aconselhável contratar alguém que vai cair doente no futuro, comprometendo sua capacidade de trabalho e o investimento que possa ter sido feito nele.


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